quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Amor Guantánamo

Fosse o amor Guantánamo, era eu prisioneiro agrilhoado. E nessa cela farta de solidão, farto-me dos murmúrios e insinuações por entre frestas gastas.
Um nó atado unilateral;
Forço-o a ceder a cada novo aperto;
'Diverte-se com isso', penso duvidoso.
Da vida rasa e imaginada dessa Guantánamo do eu só, passo tempo a forçar saída. Dá-me sempre um reforço no nó... Mantendo-me de ninguém, por ninguém, para ninguém; mantendo morno o que está suspenso; mantendo a sobrevida do nó.
Hoje, na avidez da queda livre, me vem à cabeça o dito dos antigos acerca dos nós: 'assopra que desata'. Porém me falta ar...

E acompanhado de mim e dos fardos abandonados que arrasto tal qual correntes, sob a luz de uma lua farta, vem-me as dores das opções: perdurar, sob a pena solitária dos vagantes; abandonar, sob pena de incompletude.


M. Danilo Moreira

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

a água pura das nascentes,
as chuvas torrenciais,
as tempestades tropicais,
o cais,
o barco,
o pescador.

o mar,
a pesca,
a dor...

em mim,
um eu em todo lugar.


M.Danilo
___________
e, mesmo em todo lugar, muitas vezes é difícil me achar...

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

ode à lua

deu-se aos suspiros.
difícil ter domínio sobre si quando ela enche.

sentado e sentindo o mundo, me vi girar!
afetado. de afeto e de lua - suspiro longo.
conversa flui, olhar vidrado.

serenizado, sentei para ver.
como se vê inchar o ventre, vi-a crescer e nascer.
vi-a pairar no céu, sobre e dentro de mim.
cheia de si, encheu-me o peito - cheio de mim.

abre meus olhos e meu plexo - que é lunar, acredite.
abre caminhos e cruza o céu.


no mundo e de pés no chão, me encanta de tão distante.
e num instante me faz mudar como ela muda de faces.
dê-me luz. dou-te domínio.
e agradeço.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

.da infinidade!

Desandou! Era brisa leve, virou vento e desandou! ... Por dentro, a ressaca do mar. Embriagando-se entre as nuances do céu, de um céu, daquele céu. Deu-se ao mundo. Caminhando sobre as horas secas, permeando as cercas feitas pra me conter. Feitas por mim. Feito pena, feito louco, feito leve . . .
Renascendo, como depois de um inverno. Eis a primavera ... de cores e de sensações. Renovo-me com a brisa.
Por anos alados percorri sem norte, meio contra o tempo... Findei contratempos.
E hoje, me desenrolo das linhas de Cronos, suspenderei suas agulhas... eu mesma me faço. Aponto o meu norte, sigo a brisa leve e que me leve looonge...
Vou pras primaveras, vou pras águas calmas, desfazendo o tempo
... E da brisa que me sopra mansinho ao pé do ouvido, recebo arrepios de êxtase. Percorre-me o corpo, invade a alma. Eis a vida.
E o peito me toma, falta-me espaço, quero expandir! Com só uma onda fiz parar o mar...
Estremeço, o corpo não me cabe. E as raízes, percorrendo o espaço... Quebram fronteiras e me alimentam.
A essência do encantamento. Com um novo tato deslizei em minhas margens, território meu. Me desfiz das sobras, moldei novas formas anti-contratempo. Me despi do tempo... Me deixei sem fim.
Sou primavera em êxtase, sou tempestade forte, sou brisa calma, sou ressaca de mar. Sou infinidade, de sensações, de luz, de mim e do que virá. Renasço.


"...e nada como um tempo após o contratempo.”



infinidade de afinidade poética. vem de mim, vem dela. Jude: http://lapsofantastico.blogspot.com/

quinta-feira, 27 de maio de 2010

do laranja

era o céu da tarde.
a cabeça na janela, a mente de janela aberta. alerta!

foi-se longe no tempo... longe perdida.
quanta juventude perdida...

voltou laranja da tarde - laranja que arde!
laranja com fome de tempo,
grande por dentro. fome de juventude!
sonho de plenitude.

farei meu lar onde o céu encontra o mar,
viverei de azul...
ah!, e de laranja - laranja jovem.

as cores do novo tempo

(sem ponto final)

domingo, 4 de abril de 2010

O três

-E agora? cadê o chão que eu pisava?- me pergunto.

Depois do três não se vê mais o chão que se pisava antes de tudo. Rendendo tempo, rendendo textos, rendendo dores, rendendo-me. No três se tem tristeza; sensação de prisão... cadê o chão?
Mesmo sem achar terreno, eu não estou a flutuar. Tenho peso; peso o bastante pra afundar. Talvez o chão esteja acima de mim... Ah, que carência de mim mesmo!...

Depois do três isso parece imperecível. "Cadê a validade do amor? E, se não é pra dois, quem foi o tolo que o validou?" E abaixo do chão tem o sufoco. Silêncio.

Depois do três eu não sobrei. Faltei. Sinto minha falta. Quem hoje em dia mora em mim?
Eu. Ele. O três.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

novo mundo

Às vezes, parar pra pensar é a porta aberta pra angústia - doença da modernidade...
Pensava eu sobre os amigos e sobre os acessos. Sobre os caminho, as ida e as vindas. Concluo, então, que o mundo moderno cada vez mais engole os laços.
Perdoem-me os internautas assíduos, mas me alimento dos abraços. Os laços que crio são reais! e cabe a observação: sentimentos não cruzam cabos USB's.
Lembro da minha infância, lembra-te da tua? No porta-à-porta se fazia o dia-a-dia... Os amigos eram vizinhos, o convívio dispensava o mundo digital. Dominava o reino real dos laços fortes e dos abraços. Ah, os abraços...
Não se pode quantificar o quanto se transmite em um abraço. É maior que ler as descrições dos sentimentos. É maior que ver as imagens que cruzam cabos, mares, antenas e satélites! Dispensa todo esse arsenal tecnológico. É natural, necessário e REAL!
E para os transeuntes desse mundo tenho a saudade. Esta que tenta nos consumir, mas não se engane: nós a consumimos moderadamente rápido. Então temos a falta do que já não é mais essencial...

Aproxima do cômodo, distancia do essencial. É isso que nos faz o mundo digital.
E o novo mundo físico? Ah, esse nos empele ao mundo digital por ânsia social! Esse engole os laços e as pessoas dia após dia. Esse me faz sentir cada vez mais estático e faz dos sentimentos algo sempre mais volátil. Eu sou daqui, sou real, dê-me um abraço e entre para o meu mundo.

___________________
de quem sente e não esquece. de que tem saudade dos transeuntes. de quem ama, cuida e abraça.