Dai-me do peito não a cura, mas a água que me mata a sede;
Dai-me também mais sede.
Dai-me o que nutre o solo desse meu deserto impenetrável;
Dai-me o que nutre a vida do meu único trevo que fácil resseca.
Dai-me forças,
Dai-me flores.
Dai-me o que me faz insensato, o que me cega, o que me desentende.
Desorienta-me.
Dai-me o que chorar a noite,
Dai-me o que gozar a dois,
Dai-me o que correr nas veias.
Dai-me veias.
As alheias.
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
Carta à Vida (ou Carta Ávida)
Eu não te dissolvo, eu não resolvo teu estratagema. A tua mente me fala em aramáico, hebraico ou em um latin arcáico que tuas cordas vocais não sabem soprar.
-Me deixa a par do teu sentimento?
Ah!, me tira do teu labirinto. Mentira do teu próximo grito que já não rompe minha carcaça. Me desenlaça que não te quero ao meio. Me diz se vai, diz ao que veio.
te traduz em palavras, pois eu não leio teus olhares (milhares...milagres). Não quero mais a dose do teu sabor, o pouco do teu calor, fingir saber o que eu não sei.
Quero teu começo, meio e fim. Quero a tua verdade.
O amo por tudo o que poderias ser;
O amo pelo bem que poderias me fazer;
O amo por todas as possibilidades.
segunda-feira, 16 de junho de 2008
Ele a embriagava com sussurros.
Ela rendia-se cega, morna, dele; e guardava daquele instante o cheiro de café e fumaça, o som do bambu ao vento, o latido distante, o sal da lágrima, a textura áspera das mãos, a saliva acidulada. Amava.
Ele não a amava, mas lhe fazia amor. Ele a fazia gozar sem explorar os sentimentos, sem enganar, sem iludir. Ele a queria bem, mas não a queria para sempre.
Ela explorava os segundos, sugando do ar todas as emanações do amor. Gemia baixo, tremia o lábio, respirava caoticamente, contraia os olhos e desacelerava.
Ele fumava, beijava-lhe a testa, acariciava o gato e ia.
Ela estática, dissolvia-se entre os lençóis, molhava a fronha, rejeitava o útero, agonizava.
domingo, 18 de maio de 2008
...
Tu veio livrar-me a culpa de desamar.
Tu veio amar meus lábios, deixar teu doce.
Tu veio como segredos bentos do mar.
Tu veio trazer-me o pulso acelerado.
Tu veio como quem veio acalentar.
Tu veio tal qual pedaço da minha vida.
Tu veio mostrar-me as vidas que irão passar.
quinta-feira, 13 de março de 2008
Tu me beijaste a face e, naquele dia, a face da lua eu beijei. Apesar da brisa do mar, meu rosto fez-se quente com o doce da tua boca, com as linhas dos teus lábios, com o cheiro do teu cabelo.
O mar – brilhante prata de lua – banhava a praia por onde andávamos entrelaçados por sentimentos comuns. Sorrimos à toa, falamos desimportâncias, demos-nos as mãos. A sós. Um só.
O sol já saudava o céu tal qual deste a lua despedia-se. Despedimo-nos. Quisera eu ver nesse sol a estampa de São Jorge, 4 fases/faces, 13 ciclos...
E esse amor, bento de lua (essa minha e tua), fez-se leve, fez-se fardo, fez-se fato, fez-nos ávidos de lábio, de lua e de pele nua.
"O que se abatera sobre ela não era um fardo, mas a insustentável leveza do ser."
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008
Ausento-me de mim mesmo, adentrando na névoa densa da incerteza. Vagante, pelo medo e pela angústia, transponho-me. Ponho-me ébrio, cego, disforme.
Desencontro os olhares para esconder minh’alma indigna de qualquer forma de admiração. Escavo meu ser tentando me encontrar, à mercê de qualquer tormenta. Não me tenho.
Talvez me encontre noutro ser. Noutra realidade capaz de apontar-me um norte e saciar uma alma sedenta de sensações, ávida de ar, de mar, amar.
Giraram-me a rosa-dos-ventos.
sexta-feira, 4 de janeiro de 2008
O fim do dia impregnado de nostalgia atormenta e acalanta. É cruelmente escuro de esperanças, minguante de alegrias, crescente de solidão.
Lembra a dor e a total ausencia de cor. De vida. De pulso sensivel. Meus fins d dias são inconsceiantemente trágicos. Portais de noites claras e pensativas, reflectivas.
Mas, no amanhecer, a grama reflete o verde da esperança de um novo dia pra se 'viver' até o roxo cobrir sua face....